domingo, 21 de novembro de 2010

"Cesse tudo o que a Musa antígua canta/ Que um valor mais alto se alevanta"

A fada hoje vai remeter-se ao silêncio e debruçar-se num dedicado exercício de reflexão. Em poucas palavras:


Não o chamam Mata porque sim.

« Segunda-feira, 9 de Novembro de 2009
"Cher" Bastonário "J’Acuse"

Exmº Sr Bastonário da OMD, Dr Orlando Monteiro da Silva, caro Colega e Amigo

Escrevo esta carta aberta a todos, mas a si dirigida concretamente, em resposta ao documento “Renovar a nossa Ordem - falemos sério”, que permita-me que lhe transmita em antecipação, me chocou particularmente. Faço-o pela impossibilidade de responder à Lista A signatária do documento, por esta não ser individualmente identificável, mas sim um colectivo que V. Exa. subscreve pela sua posição de Liderança e que consubstancia por inerência.

Começaria talvez por lhe dizer que são os processos eleitorais meros instrumentos de funcionamento das instituições, importantes mas efémeros e transitórios. “O debate de ideias, o contraponto”, a oposição de candidatos com ideias diversas é que são efectivamente a essência da instituição. As suas existências democratizam-na, as suas recusas demonstram sintomaticamente o seu afunilamento pernicioso e redutor a uma lógica de impossibilidade de alternativa que não seja a da ruptura, da hipoteca e finalmente do caos.

Esse foi aliás o discurso dos seus subscritores desde da primeira hora, a necessidade imperiosa da sua recandidatura como possibilidade única de evitar a hipoteca das conquistas da classe, a ruptura com políticas em curso com consequências imprevisíveis para a mesma, o objectivo de terminar uma obra que, em consciência, todos sabemos interminável, como se os seus mandatos fossem o alfa e ómega da própria instituição, que todos em essência integramos e constituímos e na qual enquanto elementos temos direitos e deveres.

A negação ao debate e confronto de ideias foi desta forma vespertina no modus operandi da Lista A, mantendo-se reiteradamente, nomeadamente na censura do seu blog, estrategicamente “baptizada” de moderação, que rapidamente se transformou num mero mural com características carpideiras, e atingindo o seu clímax da forma totalmente despropositada que se verificou no último congresso da nossa OMD.

Mas atenta a Lista A no documento produzido, que o parlamentarismo inerente ao acto eleitoral deverá ser caracterizado pela “elevação e a verdade que a profissão, os colegas, a ordem e mesmo o país merecem”.

No entanto, frases expressas no site de apoio da Lista A à sua candidatura a um quarto mandato, proferidas por elementos que a compõem, do tipo “Vamos apoiar o Orlando, porque não queremos na nossa Ordem os Marinhos Pintos da Medicina Dentária. É preciso manter a elevação e a seriedade com que sempre fomos habituados. Chega de sound-bites populistas”, entre outras (algumas até demonstrando uma iliteracia profunda e preocupante em colegas que se pressupõe serem de nível superior) são altamente ofensivas, não só para os elementos da Lista B mas sobretudo e até para colegas seus bastonários de outras organizações. Aliás interrogo me que pensaria o Sr. Bastonário Marinho Pinto por si convidado e presente na última sessão de abertura do congresso da OMD de tão douto e elevado comentário proveniente de um destacado membro da sua lista.

A única elevação produzida foi a subida constante de tom até atingir rapidamente o insulto e acusação pessoal que os últimos comunicados da Lista A têm denotado. Nomeadamente e para que não existam dúvidas, o texto do colega Paulo Melo em pretensa resposta ao cheque dentista que mais não foi do que um violentíssimo ataque pessoal sem substância, e com omissões importantes relativamente à questão em discussão, já que ao citar os princípios de que V. Exa. nunca abdicaria na negociação, enunciou apenas 4, “esquecendo-se” do 5º, por sinal o mais importante e que referia que a OMD nunca aceitaria valores de remuneração injustos pelo trabalho efectuado.

Nós não vamos por aí, nunca fomos, temos sido acérrimos, até duros é um facto, mas na crítica a políticas, a escolhas, a decisões e a intenções mas nunca a pessoas.

Quanto à verdade, muito mais haveria a dizer…

A começar na questão do cheque dentista que não se encontra esgotada. Antes pelo contrário, está na ordem do dia como nunca antes, já que a percepção generalizada é que justamente o modelo adoptado apresenta deficiências profundas. A tentativa de colar a Lista B a um desejo de ruptura, e de terminação do programa é falsa e falaciosa. O que defendemos como muito bem sabe é que justamente o resultado final da negociação hipotecou moralmente a Ordem no que respeita á sua posição oficial face aos actos clínicos indignamente remunerados ou mesmo gratuitos praticados por muitas convenções no espaço da Medicina Dentária nacional.

A ideia da DGS é potencialmente boa, dissemo-lo muitas vezes, o produto final é que é altamente deficitário em vários planos, expressos aliás de forma lamentável, paternalista e de educação duvidosa pelo Chief Dental Officer Português na sala do cheque dentista no último congresso e percepcionada por todos os colegas presentes que se sentiram aliás manifestamente insultados.

Mas não será certamente este o lugar para repisar este facto.

Voltemos ao texto enviado, cuja análise já é de si difícil, distorcido que está por uma torrente de insultos desconexos a que apenas a nota comum do ódio destilado consegue de forma frágil sustentar.

Os cargos enunciados e desempenhados pelos colegas Fernando Guerra e João Carlos Ramos, denotam apenas experiência associativa, e concretamente na OMD, que a todos nos orgulha, não nos pode envergonhar. Nunca renegámos o nosso passado, e sempre afirmámos que a OMD não começa hoje, nem amanhã, é uma obra que importa preservar. Não queira V. Exa. pretender que é apenas sua. Pelo seu texto se percebe que muitos outros, a quem lhe ficaria bem (enquanto Bastonário de todos os colegas, e não só dos que o apoiam presentemente) demonstrar alguma gratidão.

Eu próprio dei muitos anos do meu tempo pessoal, profissional e familiar ao serviço da OMD, sem esperar nada muito menos benefícios pessoais. Nunca me auto propus, fui sempre convidado, inclusive por V. Exa., e não espero da OMD nenhuma promoção pessoal, fica-vos muito mal dizerem me neste texto que sou “daqueles que muda de camisola, por ambições pessoais ou outras…” mas felizmente os colegas conhecem-me, há muitos anos! O mesmo se aplica aos colegas Gil Alcoforado, Maria João Rodrigues, Rui Pereira da Costa, João Miguel Santos, Pedro Nicolau entre outros que pelo seu percurso merecem muito mais do que serem tratados pelo vosso texto como uma caterva de malfeitores oportunistas. Sinceramente Sr. Bastonário que falta de postura! (adoro)

Aliás não falemos de coerência do passado em que pessoas que disseram de si o indizível aparecem agora na sua Lista como se nada tivesse ocorrido.

A renovação que nós defendemos reporta-se ao futuro, não ao passado. O seu mandato não é contínuo de 9 anos, foram mandatos muito diferentes. Não escamoteemos os factos, é do quarto mandato que se trata, é aqui que a renovação incide, é aqui que a mudança é necessária.

A nossa permanência nos cargos que ocupamos, em condições difíceis, sobretudo para o colega João Carlos Ramos, são opções pessoais, que apenas denotam um elevado sentido de responsabilidade para com os colegas dentro e fora da OMD. E V. Exa. mais do que ninguém sabe que a sua ambição pessoal não passa certamente pela auto-promoção pessoal a secretário geral, ou já se esqueceu do esforço que teve de empreender para convencê-lo a aceitar o cargo que lhe propôs aquando da sua terceira candidatura.

Dizer que o ensino da Medicina Dentária Coimbrã não é mais do que um “mero” departamento da Faculdade de Medicina é de uma falta de nível inqualificável para com uma Universidade que é das mais antigas da Europa e a quem esta questão de orgânica interna apenas diz respeito. Explique-me por favor o que é que este assunto tem a ver com as eleições da OMD. Será que corresponde à visão que os seus, poucos, apoiantes membros da Universidade de Coimbra têm da sua própria instituição?

As considerações efectuadas sobre a forma como as listas de contactos foram obtidas, é no mínimo anedótica. Os colegas queixam-se de assédio? Foi a lista B que varreu literalmente Faculdades, os ainda alunos e os consultórios de forma acérrima em busca de apoios? Eu próprio nunca me inscrevi na Lista A nem dei os meus contactos oficialmente a nenhum dos seus membros. Posso perguntar da mesma forma como é que me chegam todos estes mails, SMS e newsletters? Os nossos contactos são-nos dados por colegas e apoiantes que já agora aproveito, em jeito de lógica economicista, também já são mais de mil.

A questão dos convites a terceiros que optaram por permanecer na lista A, é espúria, pouco significativa, a roçar a vitimização digna de um romance de cordel. Não fui eu próprio, e outros elementos da Lista B abordados de igual forma? Num contexto temporal que precede a oficialização da sua candidatura, previa à vaga de fundo que supostamente o leva à sua decisão? Terá V. Exa. a frontalidade de dizer de facto a toda a classe a verdadeira data da sua decisão?

Não vamos por aí, não existe defeito mais farisaico do que a falsa beatitude!

Termino, deixando-lhe uma citação da carta J’acuse do Émile Zola, na língua original que sei que V. Exa. domina:

“Me permettez-vous, dans ma gratitude pour le bienveillant accueil que vous m'avez fait un jour, d'avoir le souci de votre juste gloire et de vous dire que votre étoile, si heureuse jusqu'ici, est menacée de la plus honteuse, de la plus ineffaçable des taches ?”

"Permita-me, na minha gratidão pelo bem aventurado acolhimento, que um dia me proporcionou, e na preocupação da sua glória justa, dizer-lhe que a sua estrela, até agora tão afortunada, se encontra ameaçada pela mais vergonhosa e inapagável das manchas."


Viva a Medicina Dentária


António Duarte Mata »
Source:  http://www.facebook.com/topic.php?uid=281991230018&topic=11405 
 
Que eloquência! Que descasca!
 
You know you love me,
Pózinhos de Flúor, 
Tooth Fairy (que quando crescer quer escrever cumó Tóni).

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado fada por nos proporcionares a leitura de tão nobre e respeitada "reflexão", se assim lhe quiseram chamar...afinal não é só dentro da sala de aula que este grande senhor parte a loiça toda, ao contrario do que alguns possam pensar.
Eu não lhe chamaria reflexão..provavelmente um verdadeiro arraial de porrada.
Se não for lido na diagonal percebe-se muito bem a origem dos comentários irónicos do seu discípulo que troca a gastrina e os factores de coagulação pelo "defender a faculdade, a nossa profissão e a honra da MD". Sabereis com certeza a quem me refiro (o seu nome começa com D e não estou a falar de Deus).
Só para salientar que nos primeiros parágrafos de tal epístola fiquei confuso se estava a ler uns cantos dos Lusíadas ou se estava mesmo a ler algo do Mata..Este homem "arrebenta".Os meus sinceros parabéns.
Cumprimentos de um colega..DB